A Amélia Chinesa começou como criada da Ana Varina mas tão boa era ao serviço que acabou por tomar de trespasse à patroa as muitas casas de toleradas que tinha na Rua da Atalaia. Já a Antónia Moreno era espanhola, mundana de grande fama que acabou por montar casa suspeita de conterrâneas que importava, na Rua da Misericórdia, até comprou o prédio e faleceu em 1899, de febre tifóide. A Maria Inês praticava o mesmo ofício na baixa esfera, na sua casa perto do Chafariz do Rato havia negras e realizavam-se batuques. Quanto à Teresa do Pino, da Tv. do Poço da Cidade, conseguiu notoriedade pela forma esquisita como conquistava os seus admiradores, tendo sobre o leito um trapézio onde executava nua alguns trabalhos de ginástica. A Luisinha Cocotte era afinal um tipo rico de uma família da Lapa e Rainha das Rosas era o que chamavam ao Fernando. Sorte teve a Josefa Arranjada que foi bom alfaiate na Casa Africana e depois se fez cartomante e ganhou fortuna. E a República, fiquem a saber, era afinal uma meretriz que, em 1911, tomou parte num carro alegórico no cortejo cívico das festas do novo regime.
É um despautério passear pela cidade que alberga esta multidão de gente esgrouviada. Sabemos quem foram porque alguém deixou registado, em mais de mil folhinhas de um bloco, esta compilação de personagens lisboetas. O Grupo dos Amigos de Lisboa encontrou esta papelada nos seus arquivos e decidiu um dia publicar este “Dicionário das Alcunhas Alfacinhas”. Só nunca saberemos o nome do seu autor, para sempre anónimo.
Crónica de Catarina Portas, Público, 18 de Outubro 2008.
E o desafio para aproveitar os últimos dias de exposição sobre as histórias das personagens de Lisboa. Até amanhã no Museu da Cidade.
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