Houve uma altura em que os fabricantes de Capilé não se coibiam de usar corantes e conservantes para fazer render a fórmula, cada vez mais artificial. E, quando chegámos ao mercado, algumas garrafas de Groselha até desaconselhavam o consumo livre às crianças. Não é para nos gabarmos, mas o nosso é inteiramente feito com ingredientes naturais, a começar pelas folhas de avenca, de onde é extraída a preciosa essência do seu sabor. Tão saudável como delicioso, e vai de Capilé!
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
" O momento Marilyn de Lisboa"
© "O Pecado Mora ao Lado" |
"A crise, paradoxalmente, trouxe futuro; trouxe sangue novo e novas ideias. A cidade vive hoje um momento de invulgar vigor. No momento de crise e algum pânico que o Brasil vive, talvez seja útil olhar para o caso de Lisboa. Antes do gravíssimo surto de depressão que ainda sufoca Portugal e uma boa parte dos países europeus, a capital portuguesa era uma cidade bonita e com um passado glorioso, mas voltada quase inteiramente para esse passado, como uma estrela de cinema em plena decadência. A cidade sofria de uma deficiência de futuro, e isso explicava a melancolia elegante, mas um pouco opressiva, que pesava no ar.
A crise, paradoxalmente, trouxe futuro; trouxe sangue novo e novas ideias. A cidade vive hoje um momento de invulgar vigor. Jovens criativos vêm recuperando áreas antes degradadas para lançarem projetos irreverentes e inovadores. A queda dos preços do imobiliário e nova legislação mais favorável permitiram que empresários sem grande poder econômico conseguissem alugar espaços para a criação de bares e lojas alternativas.
O Largo do Chiado voltou a ser, como no século XIX, o coração pulsante da cidade. Sento-me por quinze minutos a uma das mesas, n’A Brasileira, e logo aparecem amigos, conhecidos, simples leitores, para dois dedos de conversa. É quase como estar em casa, mas sem o tédio de estar em casa. Mesmo ao lado, no Camões, há um quiosque do tempo de Eça de Queirós, que vende refrescos típicos da Lisboa daquela época, como a orchata (à base de leite de amêndoa) e o mazagran (limonada com café). A empresária que deu nova vida aos antigos quiosques lisboetas é também a proprietária da loja preferida por nove em cada dez turistas brasileiros, A Vida Portuguesa, que comercializa produtos vintage tipicamente lusitanos.
Para este ambiente contemporâneo e cosmopolita contribui o fato de Lisboa ter sabido acolher gente proveniente de todos os territórios do antigo império colonial. O Presidente da Câmara, António Costa, é filho de um escritor moçambicano de origem indiana. As duas maiores fadistas portuguesas, Mariza e Ana Moura, são mulatas, uma moçambicana e a outra angolana. A banda com mais reconhecimento internacional, os Buraca Som Sistema, toca kuduru, e é constituída por portugueses e angolanos. Há cada vez mais músicos e artistas plásticos a trocar Paris ou Londres por Lisboa.
A minha filha, Vera, que completou há pouco onze anos, gosta do Chiado, porque numa das passadeiras há uma grade de metrô para a saída de ar quente. Ela adora colocar-se em cima da grade, com a cabeleira a esvoaçar. Um dia viu um homem a insuflar sacos de plástico e a lançá-los aos céus a partir dali, e desde essa altura passou a insistir comigo para que fizéssemos o mesmo. No último domingo acordei-a de madrugada, muito cedo, e fomos para o Chiado. A cidade estava quase deserta. Havia três rapazes sentados no Largo de Camões, junto à estátua do poeta, como náufragos da noite. Um deles dormia, com a cabeça pousada nos joelhos. Os outros dois olhavam para nós, atordoados, enquanto a primeira luz da manhã inaugurava as calçadas. Trazíamos cinco sacos de diferentes cores. Três deles subiram muito alto. Dançavam no azul vibrante do céu, enquanto nós corríamos, ao longo das ruas tortas, para os recuperar. Vera disse-me, já em casa, que aquele fora um dos dias mais divertidos de toda a sua vida; da minha também.
Por vezes sentamo-nos os dois n’A Brasileira, voltados para a estátua de Camões, a assistir ao momento Marilyn das jovens turistas, vestidas com saias leves, apropriadas a este verão de calor intenso, as quais, inadvertidamente (ou não), com superior elegância (ou nem tanto), cruzam a grade. Há moças que vão de propósito ao Chiado para caminharem sobre a saída de ar quente, e se fazerem fotografar, segurando a saia, com um sorriso falsamente surpreendido.
Os melhores momentos das nossas vidas são quase sempre simples. A felicidade raramente chega de Ferrari. Pode chegar, sim, através de uma grade de metrô para a saída de ar quente.
Afinal de contas, Lisboa está, também ela, a viver o seu Momento Marilyn. Avança, ousada, provocadora, ainda, e sempre, menina e moça, mostrando o que tem de melhor, e o melhor que tem é a mistura entre a tradição e uma modernidade criativa e exuberante. A agenda cultural compete hoje com a de Paris, Berlim ou Barcelona, sobretudo no que respeita a música. As noites são uma festa. As ruas fervilham de gente.
“Lisboa é a nova Berlim” — diz-se, e é verdade, com a vantagem enorme de ser uma Berlim quase tropical."
O Largo do Chiado voltou a ser, como no século XIX, o coração pulsante da cidade. Sento-me por quinze minutos a uma das mesas, n’A Brasileira, e logo aparecem amigos, conhecidos, simples leitores, para dois dedos de conversa. É quase como estar em casa, mas sem o tédio de estar em casa. Mesmo ao lado, no Camões, há um quiosque do tempo de Eça de Queirós, que vende refrescos típicos da Lisboa daquela época, como a orchata (à base de leite de amêndoa) e o mazagran (limonada com café). A empresária que deu nova vida aos antigos quiosques lisboetas é também a proprietária da loja preferida por nove em cada dez turistas brasileiros, A Vida Portuguesa, que comercializa produtos vintage tipicamente lusitanos.
Para este ambiente contemporâneo e cosmopolita contribui o fato de Lisboa ter sabido acolher gente proveniente de todos os territórios do antigo império colonial. O Presidente da Câmara, António Costa, é filho de um escritor moçambicano de origem indiana. As duas maiores fadistas portuguesas, Mariza e Ana Moura, são mulatas, uma moçambicana e a outra angolana. A banda com mais reconhecimento internacional, os Buraca Som Sistema, toca kuduru, e é constituída por portugueses e angolanos. Há cada vez mais músicos e artistas plásticos a trocar Paris ou Londres por Lisboa.
A minha filha, Vera, que completou há pouco onze anos, gosta do Chiado, porque numa das passadeiras há uma grade de metrô para a saída de ar quente. Ela adora colocar-se em cima da grade, com a cabeleira a esvoaçar. Um dia viu um homem a insuflar sacos de plástico e a lançá-los aos céus a partir dali, e desde essa altura passou a insistir comigo para que fizéssemos o mesmo. No último domingo acordei-a de madrugada, muito cedo, e fomos para o Chiado. A cidade estava quase deserta. Havia três rapazes sentados no Largo de Camões, junto à estátua do poeta, como náufragos da noite. Um deles dormia, com a cabeça pousada nos joelhos. Os outros dois olhavam para nós, atordoados, enquanto a primeira luz da manhã inaugurava as calçadas. Trazíamos cinco sacos de diferentes cores. Três deles subiram muito alto. Dançavam no azul vibrante do céu, enquanto nós corríamos, ao longo das ruas tortas, para os recuperar. Vera disse-me, já em casa, que aquele fora um dos dias mais divertidos de toda a sua vida; da minha também.
Por vezes sentamo-nos os dois n’A Brasileira, voltados para a estátua de Camões, a assistir ao momento Marilyn das jovens turistas, vestidas com saias leves, apropriadas a este verão de calor intenso, as quais, inadvertidamente (ou não), com superior elegância (ou nem tanto), cruzam a grade. Há moças que vão de propósito ao Chiado para caminharem sobre a saída de ar quente, e se fazerem fotografar, segurando a saia, com um sorriso falsamente surpreendido.
Os melhores momentos das nossas vidas são quase sempre simples. A felicidade raramente chega de Ferrari. Pode chegar, sim, através de uma grade de metrô para a saída de ar quente.
Afinal de contas, Lisboa está, também ela, a viver o seu Momento Marilyn. Avança, ousada, provocadora, ainda, e sempre, menina e moça, mostrando o que tem de melhor, e o melhor que tem é a mistura entre a tradição e uma modernidade criativa e exuberante. A agenda cultural compete hoje com a de Paris, Berlim ou Barcelona, sobretudo no que respeita a música. As noites são uma festa. As ruas fervilham de gente.
“Lisboa é a nova Berlim” — diz-se, e é verdade, com a vantagem enorme de ser uma Berlim quase tropical."
no Globo
© Fabio Seixo | Agência O Globo |
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Parabéns ao santo!
O nosso querido padroeiro faz anos amanhã e o museu ao lado do quiosque da Sé está de portas abertas para o celebrar. A entrada é gratuita, entre as 10h00 e as 18h00. E depois venha descansar as pernas e matar a sede neste quiosque sempre ao seu dispor... Bom fim-de-semana!
Museu de Santo António Lisboa |
Fotografia de Ana Luísa Alvim para a CML |
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Small plates
Nuno Mendes, o chef português que se vai afirmando em Inglaterra e está a recuperar os sabores da sua infância na londrina Taberna do Mercado, passa a ter uma coluna mensal no The Guardian em Setembro. Já vai deixando o mundo de água na boca com o picadito algarvio e com os peixinhos da horta, faz questão de usar, por exemplo, anchovas dos Açores e nós gostamos muito disto.
“The food in Taberna do Mercado is different; it seems simple, but it’s not. It is poetic, complicated, nostalgic – he talks about creating dishes from “blurred memories”. “We, whether we like it or not, become ambassadors for our country … There are so many things being lost, little by little; there is lots of unemployment in Portugal, all these artisans losing their jobs. If you don’t act quickly on these things, it will be a sterile environment to go back to.” He pauses, looking a bit embarrassed. “I’m not even that patriotic.” (...)
Portugal is the great untold story of food, eclipsed by Spain and undervalued for its global impact (Goan food has a huge amount of common etymology). Its curiosities are relatively unknown; its custard tarts the main calling card. There are the gentler, sweeter cured hams from chestnut-reared pigs (“How can they call Iberian ham world-beating?”); croquettes of cuttlefish; alheira, king of the Portuguese sausage, made from game (“Taste that sourness; that’s fermentation, there’s no vinegar in there”); pink marlin; dried moray eel, a sea crop spreading from the Algarve to the Azores; tinned fish; langoustines; prawns; goose barnacles, crazy little creatures that you tug the skin off like a leg warmer; botollo sausage, made from the spine of a cow, which gave us the word “botulism”. At Taberna do Mercado, a lot of that is recreated, along with stews, mint hiding where you don’t expect it, cockle broth underneath runner bean fritters, “blurred memories from the way I ate in my childhood”. It is spectacular, but the emphasis is not on spectacle. “I want it to be a little portal into Portugal,” says Mendes.
Portugal is the great untold story of food, eclipsed by Spain and undervalued for its global impact (Goan food has a huge amount of common etymology). Its curiosities are relatively unknown; its custard tarts the main calling card. There are the gentler, sweeter cured hams from chestnut-reared pigs (“How can they call Iberian ham world-beating?”); croquettes of cuttlefish; alheira, king of the Portuguese sausage, made from game (“Taste that sourness; that’s fermentation, there’s no vinegar in there”); pink marlin; dried moray eel, a sea crop spreading from the Algarve to the Azores; tinned fish; langoustines; prawns; goose barnacles, crazy little creatures that you tug the skin off like a leg warmer; botollo sausage, made from the spine of a cow, which gave us the word “botulism”. At Taberna do Mercado, a lot of that is recreated, along with stews, mint hiding where you don’t expect it, cockle broth underneath runner bean fritters, “blurred memories from the way I ate in my childhood”. It is spectacular, but the emphasis is not on spectacle. “I want it to be a little portal into Portugal,” says Mendes.
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
"O sabor da nostalgia"
A revista culinária suíça Saisonküche dedicou nove páginas ao projecto que “começou uma tendência em Lisboa”, trazendo de volta os quiosques, “os refrescos quase esquecidos” e tantas “iguarias tradicionais”. Quis saber a receita do pastel de nata ou do de massa tenra, deliciou-se com a orchata, a ginjinha e as histórias dos quiosqueiros. Espantou-se ao ver como Mariana (do quiosque da “pitoresca Praça de São Paulo”) reconhece a clientela e se antecipa a tirar o café para aquela senhora de mini-saia, que passa todos os dias à mesma hora (“até dava para acertar o relógio por ela”). Gostou de saber que o xarope de limão para a limonada “é elaborado exclusivamente a partir de ingredientes naturais e com frutos maduros, o que lhe dá o velho sabor caseiro”. Afinal, “pesquisámos bibliotecas e arquivos, à procura das receitas originais", explica Catarina Portas.
“Todos os dias, uma bonita Ape de três rodas gira incansavelmente entre a cozinha e os quiosques, que abastece constantemente de produtos frescos. "Finalmente, há em Lisboa estes lugares onde se pode fazer uma refeição rápida por pouco dinheiro", disse Rosa, uma estudante de medicina que passa quase todos os dias no quiosque roxo na Praça das Flores, "aqui não há junk food, é tudo bom."
“Comprámos no ano passado o vermelho centenário à família proprietária, que entrou em contacto connosco, porque se queria certificar de que o quiosque ficava em boas mãos ", explica Catarina Portas. O nome da família, Castanheira, continua inscrito em letras grandes na fachada, e com quase 80 anos de idade, a ex-proprietária volta regularmente para um copo de ginginha. "O quiosque amarelo foi encontrado num armazém desmontado em peças. Foi restaurado e agora está no bairro de Alfama, logo abaixo da Sé catedral. "Nunca tinha havido um quiosque ali antes” admite Catarina "mas não se encaixa bem em frente da catedral?” De facto, já há quem acredite que ele sempre ali esteve.”
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Saisonküche
Por um dia, Catarina Portas serviu cafés - e de tudo um pouco - no Quiosque de Refresco de São Paulo, para a revista de culinária suíça Saisonküche. Oportunidade para falar daquilo que a nossa gente mais gosta de ter à mesa e acabar a dar receitas de iguarias que preparamos todos os dias para a nossa querida clientela. A jornalista Patricia Engelhorn ainda quis saber o que Catarina compra quando vai ao Mercado da Ribeira, acabou a descobrir peixes que nunca tinha visto antes na banca da Rosamar, e (só cá entre nós) nesse dia, na residência Portas, houve peixe com arroz de grelos para o jantar. Pedro Guimarães fotografou tudo, para a reportagem sobre "o sabor da nostalgia" lisboeta.
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