quarta-feira, 31 de março de 2010

Refreshing changes



"There is a new buzz about some of Lisbon's best-loved squares, as customers cluster around jaunty kiosks serving refreshments. These structures - like others as yet unrestored ones around town - were originally an early-20th-century French import. Over the years they came to serve as cafés, newsagents or even lottery sales points, but many fell into disuse while others became shabbier and shabbier. Last year, as part of the "Quiosque de refresco" project, the council issued licenses to operate three renovated kiosks to a well-known former journalist, Catarina Portas, and a partner. These spruced-up kiosks serve (...) traditional refrescos (refreshments) such as capilé (a lemon and chicory drink), homemade lemonade and groselha (made from redcurrant syrup). Flavoured milk and sandwiches of cheese and quince jelly are among other old-style treats on sale. The kiosks are open daily from 7.30am to midnight - an hour later at weekends."


"Everything here has a traditional flavour, including savoury snacks such as pork crakling, bacalhau (salt cod) with mashed chickpeas and sardine paste with roasted peppers."

terça-feira, 30 de março de 2010

Alfacinhas

O Sebastião e a Sebastiôa eram um casal de ricaços, donos de um palacete à Junqueira. Ele fora padeiro no Brasil e ela camareira mas saiu-lhes a sorte grande e tornaram a Lisboa onde, pela tarde, vinham exibir o seu magnífico trem na Avenida. Talvez fosse a Mulata a penteá-la, que era cabeleireira da rainha D. Maria Pia e também gorda, caricata e muita dada a paixões, gastando com os conquistadores os fartos lucros. Quanto à Dama Vermelha vestia-se sempre dessa cor quando distribuía prospectos pelas ruas. Fora companheira de um antigo terrorista que em tempos deitou uma bomba de dinamite na Rua do Carmo e depois andou fugido por Marrocos. Menos sorte teve a Irmã Coleta, filha de oleiros, que foi apanhada no Convento das Trinas de Mocambo por ter envenenado uma educanda chamada Sara de Matos. Sete anos tinha o Rei da Madureza quando caiu de um terceiro andar e ficou meio tarado. Depois foi cauteleiro, engraxador, criado de barbeiro, toureiro na praça de Algés e acabou em sineiro da Igreja dos Mártires. Preso 39 vezes por embriaguez e ofensas à moral, um dia sairam-lhe 100.000 reis na lotaria mas gastou tudo em vinho e foram dar com ele morto num cubículo no Convento das Bernardas, com outro idiota a quem chamava irmão. Irmãos mesmo e quase cegos eram os Bichos de Seda que em tempos tocavam um flauta e outro piano num café da rua da Madalena mas agora vendiam sinas no Chiado. Filhos de uma velha capelista, cairam na miséria depois da morte da mãe, roubados por fregueses sem escrúpulos.


A Amélia Chinesa começou como criada da Ana Varina mas tão boa era ao serviço que acabou por tomar de trespasse à patroa as muitas casas de toleradas que tinha na Rua da Atalaia. Já a Antónia Moreno era espanhola, mundana de grande fama que acabou por montar casa suspeita de conterrâneas que importava, na Rua da Misericórdia, até comprou o prédio e faleceu em 1899, de febre tifóide. A Maria Inês praticava o mesmo ofício na baixa esfera, na sua casa perto do Chafariz do Rato havia negras e realizavam-se batuques. Quanto à Teresa do Pino, da Tv. do Poço da Cidade, conseguiu notoriedade pela forma esquisita como conquistava os seus admiradores, tendo sobre o leito um trapézio onde executava nua alguns trabalhos de ginástica. A Luisinha Cocotte era afinal um tipo rico de uma família da Lapa e Rainha das Rosas era o que chamavam ao Fernando. Sorte teve a Josefa Arranjada que foi bom alfaiate na Casa Africana e depois se fez cartomante e ganhou fortuna. E a República, fiquem a saber, era afinal uma meretriz que, em 1911, tomou parte num carro alegórico no cortejo cívico das festas do novo regime.


É um despautério passear pela cidade que alberga esta multidão de gente esgrouviada. Sabemos quem foram porque alguém deixou registado, em mais de mil folhinhas de um bloco, esta compilação de personagens lisboetas. O Grupo dos Amigos de Lisboa encontrou esta papelada nos seus arquivos e decidiu um dia publicar este “Dicionário das Alcunhas Alfacinhas”. Só nunca saberemos o nome do seu autor, para sempre anónimo.


Crónica de Catarina Portas, Público, 18 de Outubro 2008.
E o desafio para aproveitar os últimos dias de exposição sobre as histórias das personagens de Lisboa. Até amanhã no Museu da Cidade.

Retratos


O Quiosque de Refresco quer agradecer aos alunos do curso profissional do Instituto Português de Fotografia que nos brindaram com deliciosas imagens dos quiosques. E ao professor Telmo Miller pela amabilidade com que conduziu todo o processo. Prometemos partilhar aqui esses instântaneos do nosso dia-a-dia. E começamos com duas contribuições de Luís Barreira. No Camões.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Um destino europeu que é o nosso



Lisboa acaba de ser eleita "Melhor Destino Europeu 2010" pela Associação dos Consumidores Europeus. Por ser uma "cidade que soube preservar toda a sua alma e oferecer uma porta de entrada ao turismo, sem esquecer as suas riquezas sociais e culturais". E nós até nem precisamos de viajar para usufruir dela; basta sair à rua! O quiosque ergue o seu copo de refresco para brindar a tão acertada escolha...

Mais detalhes aqui.

terça-feira, 23 de março de 2010

É um quiosque português, com certeza



Catarina Portas, ex-jornalista e actual empresária, não quer voltar ao passado, mas viaja com frequência ao antigamente. Há cinco anos que embarca em tal aventura, recuperando o melhor do passado português. Depois, partilha-o com os visitantes dos espaços que criou, as lojas A Vida Portuguesa, em Lisboa e, recentemente também no Porto, e nos três centenários quiosques lisboetas que recuperou no Verão passado. Uma aventura que ultrapassa os seus "sonhos mais audazes". E confessa: tudo começou com um "impulso egoísta". (...)

E continua empenhada no desafio partilhado com o sócio João Regal: a revitalização de três quiosques de Lisboa, situados na Praça Luís de Camões, Príncipe Real e Praça das Flores. Nestes Quiosques de Refresco recuperam-se sabores antigos, preparados de forma natural. "Refresco é uma bebida fresca, confeccionada no próprio dia, sem qualquer tipo de conservante ou corante, e com pouco açúcar", descreve a proprietária. Chegar às receitas de capilé, mazagrã, orchata ou leite perfumado não foi tarefa fácil. "Saímos da primeira sessão completamente enjoados, porque as receitas originais usavam imenso açúcar", recorda, acrescentando que foram precisas várias experiências para chegar à fórmula certa. O capilé e a groselha, por exemplo, são feitos a partir de xaropes preparados por Daniel Roldão, da Fábrica de Rebuçados de Portalegre. Os sabores tradicionalmente lisboetas também estão presentes em sanduíches originais: de bacalhau em meia desfeita, de pasta de sardinha com pimentos, de queijo e marmelada ou de torresmos. A Câmara Municipal de Lisboa tem mais quiosques para recuperar e Catarina Portas admite participar em futuros concursos da autarquia para gerir "mais um dou dois" destes espaços típicos da cidade.

Joana Haderer, Gingko, Março 2010.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Horchata



A primavera no quiosque já tem banda sonora, um tema delicioso dos Vampire Weekend, que dá pelo nome de Horchata. Retiramos-lhe o "h", juntamos-lhe uma palhinha e damos as boas vindas aos dias radiosos. Ou como diz a letra, "Here comes a feeling you thought you'd forgotten/Chairs to sit and sidewalks to walk on".

Muito antes de ser canção, no século XIX, a Orchata já era um dos mais populares refrescos lisboetas. E muito antes da banda de indie rock norte-americana, já Eça de Queiroz lhe exultava as qualidades. Porque é um refresco rico e cremoso, de gosto particular e requintado. Feito à base de amêndoas, com açúcar em ponto, dissolve-se em água e acrescenta-se de gelo. A música essa, é facultativa.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ginjinha com ele



No dia que lhe é dedicado, presenteie o seu pai com uma daquelas memórias que vão durar muitos anos. Surpreenda-o, aproveite para pôr a conversa em dia e leve-o a tomar uma ginjinha no quiosque mais próximo.

A nossa é a afamada e deliciosa Espinheira. "Há mais de um século que Francisco Espinheira e Ca. Lda produz este excepcional licor de ginja, baseando-se numa experiência adquirida de várias gerações e uma esmerada selecção dos frutos utilizados". A que junta água, açúcar e álcool. E que se pode gabar de ser "premiada com as mais altas recompensas nas exposições em que tem participado".

A ginja é uma parente da cereja, numa versão mais ácida que se adequa a utilizações culinárias diversas. Consta que foram os frades beneditinos que criaram a receita da ginja de Óbidos. E que a portuguesa, de uma forma geral, é considerada a melhor ginja silvestre da Europa. Fermentada em álcool, liberta todo o seu sabor frutado e uma cor rubi magnífica. O licor, ideal à temperatura ambiente, pode ser servido sem ou "com elas". As ginjas, claro.

terça-feira, 16 de março de 2010

Vai de groselha!



Os Franceses estimam o Cassis ou a Grenadine mas nós, Portugueses, sempre preferimos a Groselha, um refresco clássico das tardes de calor, de sabor doce e frutado. A receita exclusiva do nosso Xarope baseia-se nas bagas naturais deste fruto vermelho e é servido com Água do Luso, para diluição ao gosto exacto do freguês.

Buscámos na arte antiga e sábia dos refrescos portugueses, o sabor das bebidas frescas de Lisboa e recriámo-las para os dias de hoje, numa oferta original e deliciosa. Todos são confeccionados com ingredientes naturais, sem aditamentos químicos. E como escreveu Eça de Queiroz, “ Vai de refresco!”.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O aroma que vem da cozinha...



As sopas do quiosque têm sido um tal sucesso que nos últimos dias até esgotaram. A ementa para a semana é a seguinte... Segunda: Ervilhas. Terça: Abóbora. Quarta: Grão com Espinafres. Quinta: Feijão Branco com Presunto. Sexta: Alho Francês. Adivinha-se igualmente promissora.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Adoçar a boca



Nascido nos conventos da região há vários séculos, o Rebuçado de Ovo de Portalegre é um doce na verdadeira acepção da palavra, à base de ovo e açúcar. Óptimo para quem tem que se privar do gluten da farinha. A Fábrica do Rebuçado está com os quiosques desde a génese do projecto, desenvolvendo também para nós um Xarope de Groselha cem por cento natural, que é a alma daquele refresco doce e frutado.


Quem já conhece o Refresco de Groselha também se vai render ao Rebuçado de Ovo. Que conjuga a tradicionalidade da receita com as mais modernas exigências em termos de controlo da produção. O resultado é um doce que continua fiel às suas origens artesanais mas que garante simultaneamente que a qualidade, a aparência e o sabor do rebuçado se mantêm ao longo do tempo. Acondicionados numa lata elegante, embrulhados individualmente em papel de seda, derretem-se na boca e combinam muito bem com o café. Para adoçar a boca, à moda de Portalegre.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Kioscos tradicionales

"En la plaza Luis de Camoes entramos uno de tantos kioscos tradicionales que hay por toda la ciudad, ahora han sido reconvertidos en bares con terraza donde se sirven licores portugueses."
"El Chiado, un viaje al pasado por la Lisboa más vintage." Texto: Federico Ruiz de Andrés; Fotos: Ana Bustabad Alonso. EXPRESO, la actualidad en viajes y turismo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sopa para beber



Obrigado pelos elogios que nos chegaram ontem à sopa de Cenoura, a que nos põe um brilho nos olhos. Hoje recomendamos um belíssimo Creme de Courgette. Quarta é dia de Bróculos, quinta é a vez dos Cogumelos. E encerramos a semana com a cor da esperança: sexta é dia de Feijão Verde. Desde já agradecemos o vosso feedback, palpites e pareceres... Tudo em nome da sopa!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Histórias de Lisboa


Alguma vez se interrogaram sobre as pessoas que frequentavam os quiosques de outros tempos? A exposição "Lisboa tem Histórias" reúne gente de diversas eras, com quem dá vontade de trocar ideias enquanto se bebe uma limonada. Do tempo dos romanos ao não tão distante de Victor Palla, um dos fotógrafos mais apaixonados que Lisboa já viu.

Figuras míticas, personalidades excêntricas, mas também figuras anónimas que, à sua maneira, deram um contributo a esta cidade. Que deram corpo à História com as suas histórias, agora dadas a conhecer através da exposição, do Museu da Cidade no Campo Grande, e das caricaturas de João Fazenda. Gente colorida, personagens únicas, seleccionadas pelas suas "características peculiares, singularidades ou tipo de profissão". A entrada é livre, até 31 de Março.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O calor que vem do vinho




As receitas podem variar consoante as latitudes do globo mas o vinho aquecido é apreciado um pouco por todo o mundo. Indispensável sobretudo no norte da Europa para animar as almas no combate contra o mais impiedoso dos frios, na Alemanha onde lhe chamam "Glühwein, na Inglaterra onde é "Mulled Wine" e em França onde é tratado, como aqui, por "Vin Chaud". No Chile é "Navegado", provavelmente por ter sido trazido por via marítima pelos espanhóis.


As variações são tantas quantas as mãos que as preparam mas assentam essencialmente em vinho adoçado, condimentado com especiarias (com canela, baunilha, gengibre, cravinho ou até mesmo pimenta) e aquecido. Ao "Glögg" escandinavo é adicionado vodka ou brandy. E o nosso Vinho Quente pode muito bem levar um cheirinho de Vinho do Porto ou Aguardente. Também há quem o enriqueça com um toque de citrinos ou lhe junte passas e/ou amêndoas para um efeito crocante. O importante mesmo é que seja cálido.


As fotografias são do nosso (também repórter fotográfico extraordinário) Ricardo Santeodoro. Só não nos peçam para revelar a receita do Quiosque de Refresco, que tanto prazer nos deu a aperfeiçoar. Porque o segredo é mesmo a alma do Vinho Quente. E nós preferimos que venham desfrutá-lo connosco...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Chocolate para beber. Chocolate para comer.



Óbidos recebe a partir de hoje e até dia 14 o Festival Internacional de Chocolate 2010. Sob o mote "Maravilhas do Mundo", com um concurso de ourivesaria comestível, outro de montras e a eleição do chocolatier do ano. Na prática, são três toneladas de chocolate só em esculturas. Aqui pelos quiosques, a festa faz-se com o mais sedoso dos Chocolates Quentes, denso e reconfortante como nenhum outro, ou o nosso Tricolor, uma mistura de Leite de Chocolate e Café - uma daquelas combinações sempre felizes.

Ou então, com as míticas sombrinhas da Regina que trazem de volta tão doces memórias da infância. Ou os decadentes chocolates da Arcádia, em versão de Chocolate Negro ou Chocolate de Leite com Biscoito, disponível em dois tamanhos: 35 e 70gr. A Arcádia é uma antiga fábrica de confeitaria (de onde saem também Amêndoas Torradas e Baunilhadas de excepção e as artesanais Drageias de Licor Bonjour), a funcionar no coração do Porto desde 1933.

Todos os portuenses conhecem este nome de fazer crescer água na boca. E muitos lisboetas também, habituados a trazê-lo de presente para a capital. Os chocolates da Arcádia preparam-se por métodos artesanais com os melhores ingredientes: chocolate belga de alta qualidade (negro, leite, branco), mel, amêndoa, noz, avelã ou pinhão. Só dispensam mesmo os corantes e os conservantes.